Prefeito de Embu é detido com acusado de atentado

Por Folha de Embu | 2/03/2019

Agente penitenciário Lenon Roque fazia “bico” de motorista para prefeito Ney Santos e portava arma ilegal e munições, ao serem parados em blitz no interior de SP; Lenon é acusado de participar de atentado a tiros contra jornalista em 2017

Jeniffer Mendonça, Ponte Jornalismo

O prefeito de Embu das Artes (Grande SP) Ney Santos (PRB) foi detido na última quinta-feira (2/3) com o agente penitenciário Lenon Roque Alves Domingues, que fazia “bico” de motorista, após uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal na altura do km 143 da Rodovia SP-332, na cidade de Cosmópolis no interior paulista.

De acordo com o boletim de ocorrência, os policiais desconfiaram da indicação de “Prefeitura Municipal de Embu das Artes” num veículo Toyota Corola cor preta que passava pelo local. Ao realizarem a blitz, por volta das 17h50, o agente informou que estava armado e portava uma pistola Taurus .380 com numeração raspada e dotada de mira laser. Ele também possuía três carregadores com 45 munições intactas do mesmo calibre, um canivete curvo, um par de algemas, um colete à prova de balas que estava no banco de trás do carro, além do distintivo que o identifica como agente de escolta e vigilância.

Ao serem conduzidos à Delegacia de Cosmópolis, também foi verificado que Lenon estava com a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) vencida.

Ney Santos disse à polícia que tinha ido à Cosmópolis e estava retornando para São Paulo na companhia de Lenon quando se perderam no caminho pelo aplicativo Waze e que o veículo é locado pela prefeitura por meio da empresa Nevada Rent. O prefeito afirmou que sabia que o agente estava armado, mas não tinha conhecimento de a arma estar com a numeração raspada. Segundo ele, foi a primeira vez que utilizou dos serviços de Lenon, por meio da indicação de um GCM chamado Leandro, que costuma exercer a função de motorista, mas que tinha um casamento na data da viagem.

Lenon está afastado há dez meses de suas atividades como agente de escolta da SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) por conta de uma ação penal na qual é réu junto ao subsecretário de comunicação da Prefeitura de Embu das Artes, Renato Oliveira, que são suspeitos de serem os autores de um atentado contra o jornalista Gabriel Binho, ocorrido em 28 de dezembro de 2017. Gabriel foi baleado no km 279 quando passava de moto da rodovia Régis Bittencourt e acredita que o crime teria sido motivado por conta de reportagens críticas que fez à gestão de Ney no jornal Verbo Online na época. Renato e Lenon são acusados de tentativa de homicídio triplamente qualificado e injúria com o agravante de serem servidores públicos. Renato foi exonerado da secretaria em fevereiro de 2018.

O agente deu a mesma versão de Ney Santos à polícia durante a blitz e disse que sua arma foi apreendida por conta dos processos aos quais está respondendo (também no âmbito administrativo) e que, “para não ficar sem arma”, estava utilizando a pistola Taurus de numeração raspada que comprou há cinco anos para “sua segurança pessoal”. Lenon afirmou que adquiriu todos os objetos apreendidos de maneira particular. Segundo o BO, o colete não é de uso restrito.

Lenon foi indiciado por porte ilegal de arma e teve sua prisão convertida em preventiva (a pessoa fica presa por tempo indeterminado até o julgamento) em audiência de custódia na sexta-feira (1/3). O juíz Bruno de Paiva Garcia, da Comarca de Campinas, entendeu que há “hipótese de reiteração criminosa e há evidente necessidade de aprofundamento das investigações, inclusive para que seja constatada eventual participação do averiguado com o crime organizado” de Embu das Artes, diante da acusação de atentato ao jornalista. Além do serviço de “bico” o que é “incompatível” com as funções de um servidor público, conforme descreve o magistrado.

Já o prefeito foi ouvido na delegacia na condição de testemunha e liberado.

Outros casos

Não é a primeira vez que Ney Santos se envolve em situações do tipo. Sua casa foi alvo de busca e apreensão em maio do ano passado pela Polícia Federal diante da suspeita de desvio de verba em fraudes para a merenda e uniforme escolares junto a 13 outros prefeitos investigados na Operação Prato Feito.

Ele também quase perdeu o cargo ao ser acusado de lavar dinheiro para o PCC (Primeiro Comando da Capital) e de usar recursos do tráfico de drogas em sua campanha eleitoral em 2016, quando venceu a disputa. Ele responde em liberdade as acusações de lavagem de dinheiro e liderança de organização criminosa, após o STF (Supremo Tribunal Federal) ter concedido habeas corpus.

Além da blitz, o caso mais recente envolvendo Santos foi a condenação à prefeitura de Embu das Artes, em 6 de fevereiro deste ano, a pagar indenização a uma atendente de um hospital público que foi constrangida após o prefeito ter furado a fila de espera e dado preferência à esposa de um amigo, segundo o Estado de S. Paulo.

Outro lado

Em nota, a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) disse Lenon “está atualmente afastado de suas funções na Penitenciária Feminina de Sant´Ana para tratamento de saúde. A conduta do agente será objeto de análise, por meio de processo administrativo que poderá resultar até em demissão a bem do serviço público”.

Leia a reportagem na Ponte Jornalismo: https://ponte.org/prefeito-de-embu-das-artes-ney-santos-lenon-roque-atentado-pcc/

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